41. Excalibur

Escrito por Peter Lawrence

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Sinopse oficial
A história de Excalibur, a maior espada de todos os tempos, é revelada a Mumm-Ra. O Sacerdote fica obcecado em obter Excalibur e derrotar Lion-O e a Espada Justiceira. Mumm-Ra se transforma no Rei Arthur e convoca a Dama do Lago. Logo depois, vai para a Toca dos Gatos e, a princípio, consegue convencer os ThunderCats de que ele é um cavaleiro poderoso e honrado. A equipe desconfia da figura à sua frente por causa de seu comportamento cavalheiresco e arrogância. Mumm-Ra/Rei Arthur provoca Lion-O e o manipula em uma justa. Excalibur e a Espada Justiceira se libertam de seus combatentes e lutam de forma independente. Mas, tendo derrotado o Olho de Thundera, Excalibur se recusa a obedecer seu maligno mestre. Merlin aparece e confia Excalibur a Lion-O, que a devolve à Dama do Lago.

Moral pelo Dr. Robert Kuisis
Lion-O e os ThunderCats aprendem que o Código de Thundera sob qual vivem é compartilhado por outros e faz parte de um código moral universal. Eles são apresentados a Merlin, guardião de Excalibur, e à lenda do Rei Arthur e seu código de justiça, verdade, honra e lealdade. E eles aprendem, depois de testemunhar a tentativa fútil de Mumm-Ra de subverter o código para propósitos malignos, que a verdadeira moral em sua forma mais alta é um fim em si mesmo e repousa em princípios universais. Qualquer tentativa de subvertê-la ou ignorá-la, como no duelo tolo de Mumm-Ra e Lion-O, está fadada ao fracasso.

Uma teoria do desenvolvimento moral sustenta que o julgamento ético prossegue através dos níveis, desde a evasão da punição, à conformidade social, até um conjunto autônomo e internalizado de valores (Kohlberg, 1963). Uma distinção importante a ser feita ao considerar o comportamento moral é entre princípios gerais e convenções sociais. As crianças, desde os 4 e os 6 anos de idade, têm a capacidade de distinguir questões morais, baseadas em princípios como justiça, bem-estar de outras pessoas, de convenções sociais, regras de conduta arbitrárias sancionadas por costumes e tradições, como tipos de roupas ou uso de nomes ou títulos no tratamento de pessoas (Turiel, 1983). Ajudar as crianças a fazerem essas distinções é uma parte importante da promoção de seu desenvolvimento moral.

KOHLBERG, L. (1963). The Development of Children’s Orientation Toward a Moral Order: I. Sequence in the Development of Moral Thought. Vita Humana, 6, 11–33.TURIEL, E. (1983). The Development of Social and Moral Knowledge: Morality and Convention. Cambridge: Cambridge University Press.

Elenco e personagens
Lion-O: Newton da Matta
Panthro: Francisco José
Tygra: Francisco Barbosa
Cheetara: Carmen Sheila
Wilykit: Marisa Leal
Wilykat: Nizo Neto
Snarf: Élcio Romar
Mumm-Ra: Silvio Navas
Antigos Espíritos do Mal: Ricardo Schnetzer
Rei Arthur: Silvio Navas
Merlin: Magalhães Graça

Locais em destaque: Lago, Toca dos Gatos, Pirâmide Negra.

Comentário oficial
Desde o início da série ThunderCats, a arma icônica de Lion-O, a Espada Justiceira, tornou-se um recurso central. A fonte do poder dos ThunderCats e sua arma mais poderosa em defesa de si e de seus amigos, a espada às vezes parecia quase invencível, e era natural que um tema que os escritores da série desejassem explorar fosse encontrar uma força ou arma que poderia combatê-la de igual para igual. Uma dessas tentativas foi “O Thunder-Cortador”, em homenagem à espada de Hachiman com o mesmo nome. “Excalibur” é outro na mesma linha e, é preciso dizer, uma das façanhas mais bem sucedidas neste terreno.

O conceito de colocar a Espada Justiceira contra nenhuma outra espada do cânon ThunderCats, mas uma espada da lenda antiga é inspirada. Excalibur não é apenas considerado na ficção como uma das espadas mais poderosas que já existiram, mas, por causa disso, seu próprio nome evoca uma imagem formidável de algo que poucos poderiam esperar melhor. Outra coisa notável sobre o uso de Excalibur neste episódio é o fato de que se cria um dos elos mais fortes da série entre o Terceiro Mundo e a Terra. Embora a lenda do Rei Arthur seja predominantemente ficcional, é uma ficção que pertence diretamente à nossa Terra – mais uma indicação de que o Terceiro Mundo e nosso planeta são a mesma coisa, apenas em diferentes estágios da evolução.

Este episódio é digno de nota por mostrar como a Espada Justiceira é central para todos os personagens principais da série. O exemplo mais óbvio disso é que é a fonte dos poderes dos ThunderCats, como é demonstrado quando o Olho de Thundera é (brevemente) destruído, esfaqueado por Excalibur, e os ThunderCats são expoliados de suas forças e poderes. No entanto, este episódio também mostra quanto efeito a presença da Espada teve no próprio Mumm-Ra. Nos estágios iniciais da série ThunderCats, Mumm-Ra é mostrado cobiçando o poder do Olho de Thundera, e seu objetivo principal é possuir o artefato para si. Depois de descobrir em “O Jardim das Delícias” que ele não tem a capacidade de distorcer o poder do Olho para seus próprios fins malignos, ele gradualmente parece se concentrar mais em destruí-lo (e os próprios ThunderCats) do que em possuí-lo. Dessa maneira, o conceito da presença dos ThunderCats e do Olho no Terceiro Mundo parece se tornar mais uma obsessão irracional por Mumm-Ra, com aparentemente todas as suas ações sendo executadas na esperança de destruir seus inimigos.

Essa obcessão seria confirmada na quarta temporada do programa, quando os ThunderCats deixaram seu mundo adotivo para colonizar Nova Thundera. Ao invés de retornar ao seu planeta natal, o Terceiro Mundo, para conquistá-lo facilmente na ausência dos ThunderCats, Mumm-Ra fica em Nova Thundera e tenta conquistá-la, indicando emotividade e não objetividade nas tentativas de derrotar os heróis felinos acima de tudo. O próprio germe desse conceito é realmente evidente com o discurso de Mumm-Ra no início deste episódio, que não tem forma, mas aparece como delírios lunáticos de um louco que se dedica à destruição e vingança.

Este episódio também é notável por Lion-O, cujo personagem é inteligentemente explorado aqui pelo escritor Peter Lawrence. Nas primeiras aparições na série, Lion-O mostra-se um personagem muito defeituoso, exibindo uma sensação de orgulho de leão que o leva a muitas situações difíceis e é contraproducente à sua eficácia como guerreiro e líder. Embora as ações de Lion-O neste episódio não retornem a esse nível inicial de imaturidade, Mumm-Ra, disfarçado de Rei Arthur, sabe exatamente o ThunderCat certo para irritar com seus insultos, provocações e maneiras geralmente descortesas. Lion-O deve reagir da maneira que ele, ironicamente, traz à mente em outro episódio baseado em espada, o mencionado “O Thunder-Cortador”, no qual o comportamento um tanto arrogante de Hachiman desperta o orgulho indignado e imaturo do jovem Senhor do ThunderCats.

Uma coisa interessante sobre o comportamento de Lion-O nesta feita é que se esperaria que os outros ThunderCats tentassem moderar as ações orgulhosas de seu jovem líder com racionalidade e sabedoria. Em vez disso, Tygra e Panthro parecem ser quase a favor, insistindo que Lion-O não tem escolha e se recusando a intervir em seu duelo com o falso Rei Arthur, alegando que é uma questão de honra. Somente Cheetara vê a futilidade do conflito de Lion-O com o cavaleiro insano. É surpreendente que os outros dois ThunderCats mais velhos adotem a postura que adotam, talvez indicando que as provocações do disfraçado Mumm-Ra também os atingiram.

Às vezes, esse episódio é lindamente animado, com uma direção incrível, quase cinematográfica. O flashback de Arthur sacando a espada da pedra é acompanhado por uma luz solar prismática e uma adorável multidão, fora de foco no fundo, bem como algumas transições inspiradas. A aparição de última hora de Lion-O em um unicórnio é ainda mais dramática por meio de um efeito e um brilho suave, como se houvesse algum líquido na lente da câmera. O efeito mais dramático, no entanto, ocorre no final do Ato 1 e no meio da justa no Ato 2, quando todo o movimento é congelado e toda a imagem assume a aparência de uma pintura. Esses pequenos toques realmente ajudam a estabelecer esse episódio como um suspense e drama. Existem muito poucos episódios ThunderCats com uma sensação tão sombria e agourenta quanto esse, uma sensação que é enfatizada pelo fato de que, no final, os ThunderCats desfrutam de uma fuga de sorte em vez de uma vitória, com a intervenção oportuna de Merlin, a única coisa que os salva de certa destruição.

Talvez por esse pressentimento, talvez por causa da trama, ou talvez por causa dos personagens convidados que vinculam o Terceiro Mundo tão fortemente à nossa Terra, “Excalibur” é um episódio muito poderoso e memorável e um dos episódios de destaque da primeira temporada de ThunderCats.

Escrito por Chris (He-Fan)

Curiosidades

  • O flashback no início deste episódio mostrou clipes dos episódios “Rainha de 8 Pernas”, “Retorno a Thundera” e “A Prisão Astral”.
  • Os Antigos Espíritos do Mal são dublados neste episódio por Earl Hammond, enquanto mais tarde serão dublados por Earle Hyman, na versão original.
  • Quando Excalibur apunhala o Olho de Thundera, os ThunderCats perdem sua força e entram em colapso, reiterando o fato declarado de que o Olho é a fonte de seus poderes. Suas insígnias também ficam escuras, algo que mais tarde vemos em “The Thunderscope” quando o Olho é novamente danificado e o Lion-O é quase morto.
  • Outra consequência do dano ao Olho está relacionada à Toca dos Gatos. As luzes se apagam e as insígnias externas também desaparecem. Embora provavelmente seja apenas para um efeito dramático, isso implica algum tipo de conexão entre o Olho e os cristais que alimentam a Toca de energia, o thundrillium.
  • Muitas características populares das várias versões da história de Arthur aparecem como parte da recontagem dos Antigos Espíritos do Mal da história de Excalibur, de elementos relativamente conhecidos como Merlin, o mágico e a Dama do Lago, até Sir Bedivere, o Cavaleiro da Távola Redonda que devolve Excalibur à Dama do Lago.
  • A ideia original seria o Olho de Thundera subjugar Excalibur por esta estar sendo dominada pelo mal. Contudo, no momento de produzir, a equipe voltou atrás por perceber o quão fino era o gelo pelo qual caminhavam. Rei Arthur é uma lenda fundadora da Grã-Bretanha e importantíssima para o orgulho nacional do arquipélago. Por isso, sabiamente, os produtores preferiram o caminho mais respeitoso e conseguiram passar a mesma mensagem: a moral pura não pode ser dobrada, e o mal não prevalece por muito tempo.
  • Apesar de nos comentários ficar evidente que o efeito “Deus Ex Machina” da aparição de Merlin ser indesejado, fica também a sensação de justiça poética: se Excalibur supera a Espada Justiceira por ser um marco do orgulho nacional inglês, de igual modo Merlin subjuga Mumm-Ra como mago.

Texto extraído de thundercats.org com tradução e complementos de Luciano Marzocca